Qui, 29 de julho de 2021, 08:50

Grupo de apoio da UFS atende mulheres vítimas de violência doméstica de forma presencial
Além das mulheres, agressores também são atendidos no Grupo de Autores de Violência Doméstica
Maria (nome fictício) era chantageada pelo então companheiro e encontrou no Gama um espaço de acolhimento. (fotos: Adilson Andrade/Ascom UFS)
Maria (nome fictício) era chantageada pelo então companheiro e encontrou no Gama um espaço de acolhimento. (fotos: Adilson Andrade/Ascom UFS)

"Essa roupa decotada não fica boa em você. Tire!". "Não quero que ande com essa sua amiga". Essas frases imperativas, muitas vezes disfarçadas de proteção e carinho, são algumas das ditas pelos ex-maridos e ex-namorados das mulheres vítimas de violência doméstica que participam dos encontros promovidos no campus de Lagarto da Universidade Federal do Sergipe (UFS) pelo Grupo de Apoio de Mulheres Agredidas (Gama). Desde o dia 23 de junho, com toda a equipe imunizada e limitação de até oito pessoas por sala, as atividades voltaram a ser realizadas presencialmente.

Os encontros ocorrem nas tardes das quartas-feiras, no Centro de Simulações e Práticas (Censip), com a coordenação da terapeuta ocupacional e professora Sandra Aiache Menta, idealizadora da ação. Quatro estudantes, na fase final do curso de Terapia Ocupacional, também prestam suporte aos grupos. Acolhidas, as mulheres recebem todo o suporte necessário para iniciarem uma nova vida, como assistência de saúde e jurídica, acompanhamento psicológico, dentre outras providências.

“Em doze encontros, aproximadamente três meses, trabalhamos com temáticas específicas, baseadas nos estudos que realizei durante o meu doutorado, para que essa mulher conquiste o empoderamento psicológico e seja capaz de ser protagonista de sua vida”, disse a professora Sandra Menta.

Atendimento aos agressores

Além das vítimas, os responsáveis pelas práticas violentas (patrimonial, moral e psicológica) também são atendidos, por meio do Grupo de Autores de Violência Doméstica (Gasvid), sempre nas quintas-feiras. Os mesmos, após denunciados, participam de discussões nas quais refletem sobre o que fizeram, de maneira a compreender o erro, desconstruir conceitos machistas e a romper o ciclo de violência que iniciaram. Nessas situações, caso cumpram integralmente o cronograma de encontros e compreendam os conceitos abordados, são liberados e não há instauração de inquérito policial.

“No início, em geral, ele (o homem agressor) não entende a razão de estar no grupo, por estar tão naturalizada essa relação de poder desigual do homem com a mulher, que leva pelo menos dois meses para entender que aquilo que ele fez é um comportamento que é possível mudar”, detalhou a professora Sandra Menta.

O grupo direcionado às mulheres, existente desde 2012, e o reflexivo voltado ao público masculino, criado em 2013, é resultado de uma cooperação técnica firmada entre a Universidade Federal do Sergipe (UFS) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP), representada pela delegada Ana Carolina Machado Jorge, da Delegacia de Atendimento de Grupos Vulneráveis (DAGV).

Ampliação da iniciativa


Durante as reuniões, as mulheres relatam as violências sofridas e recebem todo o suporte necessário para iniciarem uma nova vida
Durante as reuniões, as mulheres relatam as violências sofridas e recebem todo o suporte necessário para iniciarem uma nova vida

Diante dos resultados positivos conquistados pelos grupos Gama e Gosvid, a iniciativa será ampliada e passará a ser ofertada também no município de São Cristóvão. A partir de agosto, no dia 10, haverá reuniões semanais dos grupos dentro do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), situado no Conjunto Eduardo Gomes.

"Estamos trabalhando a ambiência do espaço, tornando-o acolhedor. Os encontros serão realizados seguindo todos os protocolos sanitários vigentes, como por exemplo: em locais abertos e com os equipamentos de proteção adequados tanto para a equipe como para os homens”, detalhou a coordenadora da iniciativa.

Empoderamento feminino - Participante relata o que mudou em sua vida após ingressar no Gama (alerta de gatilho).

A mulher, que iremos chamar de Maria, participa do grupo desde 2019. O ciclo de violência iniciou cedo em sua vida, aos 11 anos de idade, quando sob a ameaça de uma faca foi abusada sexualmente por um dos homens que trabalhava para a sua família. No período, acuada e ameaçada pelo agressor, optou pelo silêncio.

Um "segredo" que, anos depois, ela resolveu compartilhar com o seu então marido. A confissão tornou-se "arma" nas mãos do seu então "companheiro". Sob o medo de que o mesmo contasse para a sua família que ela havia sido vítima de estupro, se via obrigada a aceitar que o seu esposo cometesse abusos de diversas naturezas, tais como: xingamentos, acusações injustas e exploração financeira.

Ao participar do Gama, ela conta ter encontrado a paz e o empoderamento feminino que sempre procurou. “Aprendi muita coisa aqui. Aprendi, por exemplo, que ao iniciar um novo relacionamento, que a gente não aceite que a pessoa se sinta meu dono. Aprendi a ter liberdade, que eu não tinha”, contou a participante.

Como denunciar

Nos casos de violência contra a mulher, a Polícia Militar pode ser acionada por meio do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp - 190), nas situações em que o crime esteja ocorrendo. As denúncias também podem ser feitas por qualquer pessoa por meio do Disque-Denúncia da Polícia Civil, no telefone 181. O sigilo é garantido.

O telefone do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), unidade plantonista que funciona 24h, é o (79) 3205-9400.

Andréa Santiago

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 11 de agosto de 2021, 17:07
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